Aviso aos leitores: É de suma importância deixa claro que este é um artigo extremamente opinativo, cujo "axismo" e a referenciação científica se colocam (erroneamente) no mesmo patamar. Pois bem, se ainda assim prosseguir com a leitura, posso retrucar qualquer objeção dizendo simplesmente: "eu lhe avisei..."
Bem, neste breve ensaio – se posso chamá-lo assim – pretendo dissertar um pouco sobre a influência que o ambiente digital de comunicação exerce sobre a sociabilidade humana – mais especificamente, sobre a conversa. Mas, antes de abordagem o assunto em si, gostaria de esclarecer um pouco a escolha de um recorte tão específico para um tema tão geral como "minha relação com a tecnologia" – definido pelo professor da matéria à qual este texto se apresenta como instrumento avaliação parcial.
Primeiramente se faz necessário ressaltar que não sou contra (nem mantenho uma postura conservadora quanto) a proliferação dos meios digitais e dos modos como são apropriados – na verdade, sou um entusiasta desse fenômeno de (quase) simbiose, que tantos escritores de ficção científica representam de forma tão grotesca e temerosa. A opção de tratar de um assunto bastante específico – e um pouco clichê, admito – veio da dificuldade que tenho em pensar em minha relação com estes meios, pois ela é indissociável de quem sou – uma parte nutrida desde muito pequeno, quando meu pai me jogava na frente de um computador (com o DOS) enquanto ele trabalhava (em outro), nas horas vagas da minha adolescência, quando ou eu passava horas e horas escondido sob um pseudônimo programando produtos para uma engine de luta chamada MUGEN, e até hoje, quando penso em fazer meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema. Porém, esta relação, por mais complexa que seja, não me privou de um olhar crítico quanto a certos aspectos que hoje se encontram tensionados por essas tecnologias. Dentre eles, o mais visível (e, talvez, preocupante) é o nosso olhar ao outro, a nossos semelhantes.
Como toda boa redação (de colegial) deve-se começar pela lembrança que o ser humano é um essencialmente social, mas também se deve atentar que são as técnicas e tecnologias (não necessariamente as novas) que definem essa sociabilidade e alteram nossa percepção do outro. Nos primórdios de sua existência o homem estabelecia relações simbólicas e dialogava não só com seu habitat, mas consigo mesmo. O lugar do outro em sua vida logo se mostrou. O que, a priori, poderia ser caracterizado como uma simples questão de procriação se tornou o que chamamos hoje de “relação interpessoal”, que, mais tarde, deu origem a aglomerados de pessoas que partilhavam das supracitadas relações simbólicas, o que chamamos hoje de sociedade. O ser humano se tornou um ser complexo, e a comunicação, que o acompanhava desde os gestos e urros até a demarcação de território, também.
Os outros, para um homem, não são atores coadjuvantes de sua vida, como muitos pensam, e sim os principais. O homem vive em função do outro. E, a medida em que ele andava cada vez mais ereto, surgiram diversos meios e sistemas de comunicação cujo único objetivo era aproximar este “eu” dos “outros”. Hoje, a multiplicidade dos veículos de comunicação e seus respectivos formatos continuam a moldar permanentemente a sensibilidade humana. Processos ritualizados são transpostos para os meios digitais e, ao mesmo passo que ganham novas características – como o flerte, no qual novas construções e dinâmicas discursivas surgem a fim de suprir as deficiências básicas desse meio, como a falta do contato físico – perdem também um pouco de sua humanidade.
A idéia de distância é uma das principais “vítimas” – sendo bem trágico – das novas tecnologias e da redefinição dos lugares (inclusive os sociais) causada por elas. Espaços antes distantes agora são próximos. Mas é preciso atentar para a recíproca, que também é verdadeira: enquanto um intercambista se comunica com sua família de forma mais rápida e barata, via Windows Live Messenger, dois vizinhos de porta também o fazem. Ditos amigos “abraçam-se” através do BuddyPoke, um aplicativo para o Orkut, mas nunca o fazem de fato. Há uma verdadeira inversão do próprio conceito de distância, tanto a espacial quanto a social. O mundo se apresenta muito próximo de nós, exatamente na ponta de nossos dedos, mas só é possível tê-lo quando nos encontramos isolados, na frente de um computador. Isso sim é um paradigma.
Outro aspecto bastante controverso é a interatividade, a nova paranóia mundial. Quando é apresentada a possibilidade da fala, o consumo de informação por si só já não é o bastante – apesar de antes o ser. Talvez a supracitada multiplicidade dos meios e o fluxo multidirecional destes tornem possível estender o horizonte de repercussão das informações, mas, comumente, o que acontece é exatamente o oposto: a velocidade com as quais as informações circulam, e, principalmente, o excesso destas, propiciam a superficialidade em seu consumo. Ironicamente, a possibilidade de produzir conteúdo e compartilhá-lo de modo rápido fez com que esse consumo ficasse ainda mais raso. A interatividade virou então um sinônimo de egocentrismo. E o dizer predomina – o que é muito perigoso, pois, se o internauta simplesmente não se cala tudo o que ele pode fazer é construir e externar posicionamentos e conceitos embasados em idéias de terceiros, sem nem mesmo fruir ou constatar a validez do que consome. Obviamente que há pessoas que não o fazem, mas meu generalismo cabe aqui, pois estas são poucas. É esquecido que a contemplação é parte essencial do processo de construção do próprio ser humano.
Hoje, mesmo sozinhos não queremos ficar sozinhos. Não tem nada para fazer? Go social, como dizem os norte-americanos; entre no Orkut ou MySpace, compartilhe um bookmark no Delicious, poste uma coisa no seu blog – ta com preguiça? Poste no Twitter que são menos palavras. Compartilhe – pouco importa se você acessa o que os outros compartilham. Podemos ter 500 amigos no Orkut, mas não conversamos efetivamente nem com 50 deles; podemos ter 250 contatos no Windows Live Messenger, mas a maioria das conversas são com os mesmos 10 amigos de sempre, com os quais convivemos – isso quando não são conversas que não passam de extensões do velho “bom dia”, dito puramente por educação; diálogos infrutíferos que geralmente param no “E aí tudo bem? / Tudo e vc? / Bem tbm. / Pô legal. / É...”
Esse é um rumo muito perigoso e uma utilização muito fútil para a gama de possibilidades que as novas tecnologias nos trazem. Eu gostaria de ser um pouco apocalíptico neste último parágrafo e dizer que as formas de relacionamento e comunicação interpessoal estão sendo alteradas a tal ponto por estas tecnologias que está ocorrendo uma banalização do ato comunicativo. A conversa hoje não é um momento de intercâmbio de opiniões e informações, até um momento de ligação afetiva, ou um momento no qual é estabelecida uma conexão entre os interlocutores; a conversa hoje é apenas mais uma tarefa que você pode executar simultaneamente a outras tantas.
Sobre o isolamento da interatividade e outras reflexões afins
Publicado às 9:05 PM Marcadores: Conectividade, Conversa fiada, Ensaios
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2 comentários:
Muito bom o texto Ian (pra variar um pouco)! Reflexoes interesantes também :)
Parabéns mais uma vez e nao vejo a hora de ver o altcore de cara nova :)
Obrigado Biduzinha!
Estou trabalhando nisso :)
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