É admissível dizer que usar sistemas baseados em Linux não é para qualquer um. Aliás, essa é uma colocação já sustentada por diversos argumentos, então não são necessários outros (sem o devido fundamento) para tentar ratificá-la.
É perfeitamente visível que, mesmo com a filosofia de "linux for human beings", o Ubuntu, e outras distribuições, ainda apresentem alguns empecilhos que impossibilitam seu uso "massivo" - empecilhos, principalmente culturais e da parte dos fabricantes de hardware; mas esta é uma discussão grande, penosa e na qual não carece entrar agora (até porque já está espalhada por toda a internet).
No post 5 Motivos que te impedem de usar linux, do blog iCaju, são apontados alguns motivos para a não adoção de sistemas linux por leigos e eu gostaria de responder à todos eles com mais espaço e conforto do que um comentário poderia permitir, então redigi este texto.
De antemão, gostaria de esclarecer que esta não é réplica inflamada, ou algo do tipo, mas apenas uma forma de sanar alguns equívocos bem comuns a newcomers - até porque os próprios autores do blog afirmam que a intenção do post "é apenas mostrar alguns problemas a serem corrigidos", inclusive eles próprios são simpatizantes do linux, chegando a dizer que gostariam "de algum dia utilizar um sistema Linux como (seu) principal SO".
Bem, vamos explorado ponto-a-ponto:
1-Compatibilidade com o hardware:
Esse se não o maior, foi um dos maiores problemas. Na hora da instalação tudo normal, HDs reconhecidos, mouse, teclado, o sistema estava rodando. Mas não rodava em sua capacidade total, rodava apenas o básico. Extras não funcionavam. Um exemplo básico é o compiz, que não funcionou em nenhum dos dois computadores testados. O Ubuntu apresentou uma incompatibilidade com a placa de vídeo, talvez fosse coisa simples de resolver, mas não para um usuário de primeira viagem. Além desse existem outros problemas de compatibilidade, como o modem dial-up, impressoras, mesas digitalizadoras, webcams, iPods, entre tantos outros.
Este é um aspecto realmente crítico em relação ao Linux - apesar de não me referir ás placas de vídeo e sim à periféricos, como pautei aqui recentemente. O Ubuntu é bem espertinho quando se trata de placas de vídeo: ele as identifica e busca o driver apropriado mesmo que este seja proprietário (como é o caso da NVidia no meu computador). O que é mais recorrente, e preocupante, é a falta de drivers para componentes. Como diz o post Minha "lista de desejos" para o Linux, do site MarcusVBP, os fabricantes de hardware não dão atenção suficiente aos sistema linux e não lançam drivers para seus produtos - isso sim é um problema.
"Isso não é culpa do Linux, e sim das empresas, que estão presas em um círculo vicioso: Elas não lançam Drivers para o Linux porque não existe uma massa de usuários significativos usando o sistema; novos usuários não aderem ao sistema porque seu equipamento não possui driver."E, no fim, quem paga o pato são os usuários (finais).
2-Instalação de pacotes/programas:Acho que a primeira pergunta aqui seria: porque um usuário leigo iria instalar uma versão beta de algo?
Das distros que testei e usei por algum tempo, ou pelo menos tentei usar, o Ubuntu é a que oferece mais facilidades. Isso se o programa desejado estiver nos repositórios. Caso queira instalar uma versão beta do Firefox, ou uma versão mais atual de outro programa qualquer as dificuldades serão maiores, pois as atualizações dos pacotes demoram um certo tempo até chegar aos repósitórios. Será necessário um certo conhecimento que quem usa pela primeira vez não tem. Comparando com Windows, a dificuldade seria como copiar um arquivo pela linha de comando, sem saber usá-la. Ao contrário do Ubuntu, o OpenSUSE, que também testei, apresentou problemas até para a instalação pelo repositório. Instalação essa que ocorreu sem sucesso. As diversas extensões como: .rpm, .tar.gz confundem na hora de decidir qual o download certo para o sistema.
As distribuições linux são famosas pela sua estabilidade e este é um dos motivos para isso: os programas que vão para o repositório (do Ubuntu, por exemplo) já foram exaustivamente testados (não só pelas empresas mas por usuários mais experientes) e reparados. Não há necessidade alguma de um usuário comum optar por um programa que ainda não passou por este processo.
Já o tempo que demora um programa para constar nos repositórios é um problema. Mas é válido lembrar que, além do sistema centralizado de instalação e remoção de software, há também o modo tradicional de instalar um programa; método comum aos usuários de qualquer sistema operacional: download na internet e duplo clique. Esse nunca falha. Alguns sistemas linux possuem empacotamentos de programas diferentes, com o citado RPM, mas a grande maioria dos sites disponibilizam um empacotamento para cada distribuição; basta selecionar o relativo à sua distribuição - no caso do Ubuntu, vários sites ainda apontam que o mesmo pacote do Debian pode ser usado. É um processo bem similar a quando se escolhe entre versões do Windowns (agora XP ou Vista). Sem maiores segredos.
3-Compartilhamentos de rede:Aí estão searas pelas quais nunca me aventurei, mas as poucas experiências que tive neste aspecto foram supridas pelo Samba. Bastou ativá-lo nas opções administrativas do Ubuntu (e esperar o download) para que eu tivesse acesso a minha rede Windows sem diferença alguma - já se a máquina com o Ubuntu era vista pelos computadores com Windows eu realmente não sei porque não cheguei a verificar isso.
Compartilhar arquivos pela rede também não foi muito fácil, ainda mais sendo essa rede entre Windows e Linux. Os computadores Windows até são vistos pelos computadores Linux, porém, além de não conseguir acessar os arquivos pelo Linux, as maquinas Windows não enxergavam as Linux.
4-Acesso de arquivos na partição Linux:Espera aí amigo! Uma pesquisa de um minuto no Google não faz mal...
Vamos imaginar que você usou o Linux e lá você baixou um vídeo. Agora no Windows você quer pegar esse vídeo. Solução ideal: É só abrir a partição do Linux e ir até a pasta onde o vídeo foi salvo. Se fosse fácil o Linux teria mais usuários. Eu, claro, estaria entre eles. Na realidade, na hora de acessar uma partição Linux, o que acontece é que o Windows não vê essas partições. Porém o contrário acontece e isso facilita um pouco as coisas, mas não resolve meu problema.
Primeiramente, o problema aí está na incapacidade do Windows de acessar sistemas de arquivo que não sejam FAT32 (como pendrives, por exemplo) ou NTFS (como o disco onde fica o Windows) não no Linux - e não precisa ser o usuário mais experiente do mundo para perceber isto.
Como objetivo aqui é resolver "problemas" (e não criar outros), a resposta é: existem muitos programas que dão ao Windows esta funcionalidade. Um deles é o Ext2IFS - programa que eu uso.
Sua instalação e manipulação é muito fácil. Basta instalá-lo e ele torna visíveis as partições que você escolher (não só com possibilidade de leitura, mas também de gravação), exibindo-as como se fossem discos rígidos - eu, particularmente, uso apenas o recurso para ler, pois tenho medo do que o Windows pode fazer.
5-Compatibilidade com extensões proprietárias, softwares proprietários e etc:Isso é realmente um problema para leigos...
A utopia imaginada pela comunidade do Ubuntu de que é possível usar um sistema operacional livre de softwares proprietários atrapalha na hora de navegar na internet. O problema mais comum é o Flash. No Ubuntu não consegui fazer com que os vídeos do YouTube pudessem ser vistos. Para quem tinha acesso ao Big Brother pela internet, não era possivel assistir ao programa, devido a essa incompatibilidade.
No Ubuntu, este problema persiste até o usuário descobrir que tudo que tem que fazer é ir no gerenciador de pacotes e buscar pelo pacote "Ubuntu-Restricted-Extras", que ativa todos os recursos proprietários - incluindo os multimídia. Outra opção também é fazer o donwload do script "Ubuntu Perfeito", que permite ao usuário instalar todos os recursos que deixarão seu Ubuntu completo apenas selecionando seus nomes em uma caixa (imagem ao lado, clique para aumentá-la).
Mas sim, eu tenho que admitir que essa mania de open-source (sem apresentar nenhuma opção com drivers proprietáário, como faz o Mandriva) é algo bem chato do Ubuntu.
Bem, tenho que ressaltar que tudo que indiquei acima foram dúvidas que tive assim que migrei de sistema, porém bastou uma rápida consulta ao Google para saná-las - mas tudo bem, não estou cobrando que os usuários finais de todo o planeta façam o mesmo. Também é válido salientar que tudo foi feito sem a utilização de linhas de comando - até porque eu também não sei lidar com elas.
Penso que uma réplica como essa se torna ainda mais interessante quando parte de um usuário tão leigo quanto o que levantou os questionamentos - ou mais, afinal eu curso Comunicação Social e não Ciências da Computação.
Mesmo relativamente leigo descobri que o Linux não é um "lobo mau" tão feroz quanto aparenta.
Referências: 5 Motivos que te impedem de usar linux, Minha "lista de desejos" para o Linux e Script Ubuntu Perfeito.
2 comentários:
Depois de ler e replicar vários comentários lá no iCaju, eu, que fui o "amigo que entende de Linux" do usuário que fez o post percebi umas coisas sobre esse assunto que eu não enxergava antes.
O Ubuntu e as outras distribuições foram preparadas para a maioria dos problemas que o usuário citou no artigo. O problema é quando os assistentes e interfaces gráficas não funcionam. E aí? O que resta ao usuário leigo? Então a questão na verdade não se trata de criar soluções para esses problemas, e sim de *garantir* que as soluções criadas funcionem sempre (na medida do possível) e no caso de não funcionarem fornecer meios alternativos ao terminal para resolvê-los. O que ocorreu foi o seguinte:
1- O Jockey, instalador de drivers restritos, não instalou corretamente o driver da placa nVidia. Nem o Synaptic deu jeito;
2- O problema da instalação dos Betas se repete na instalação de vários pacotes a partir do site do projeto. Depois de baixar o arquivo, caso não seja um .deb empacotado especialmente para a distro, o usuário está sujeito a enfrentar problemas de dependência ou simplesmente não saber o que fazer com o pacote, caso seja um tarball, ou um RPM em uma distro baseada em Debian, por exemplo. Outro problema é que esse modelo centralizado é estritamente dependente de uma conexão veloz com a Internet. Se o usuário tiver um problema de compatibilidade com a placa de rede ou modem fica com as mãos e pés atados.
3- Dizem que o SMB do Samba é melhor do que o da própria Microsoft, no entanto o primeiro carece de ferramentas de configuração de qualidade e acessíveis ao usuário que tem conhecimento suficiente para tirar benefício de um compartilhamento de rede, mas não sabe como configurar servidores. Bem que poderia existir um Samba lite, né?
4- Nesse ponto eu concordo que uma pesquisa no Google resolveria o problema facilmente, mas é preciso reconhecer também que em um ambiente dual-boot com Windows e Linux o fato de o Windows não suportar as tecnologias do Linux acaba gerando contratempos para o usuário. Se essas tecnologias são todas de código aberto e livres, porque não a Microsoft portá-las para Windows? A exemplo, se a compatibilidade com Windows trazida pelo wine é uma vantagem do Linux e dos programas para Windows então a não-compatibilidade do Windows com Linux é uma desvantagem para os programas Linux e para o Windows.
5- No caso do flash o problema foi que o usuário, durante o Download Day, baixou o Firefox 3 e tentou instalar, mas o Firefox já vem compilado do site e não tem uma opção fácil para substituir a versão antiga. Resultado: o novo Firefox pedia para instalar o Flash. O gerenciador de pacotes instalava, só que instalava para a versão antiga do navegador.
Parabéns pela excelente reposta. Mesmo não concordando com o autor, soube argumentar e expôr sua opinião sem ofender ninguém, mostrando que críticas podem sim ser respondidas da mesma forma que elogios. Se toda a comunidade FOSS tivesse a mesma atitude frente as críticas seria um bom avanço para a causa.
Você levantou um ponto interessante (que eu ainda vou explorar em uma postagem futura assim que o nefasto período de provas passar): a GUI. Já vi alguns posts no MeioBit, principalmente, falando sobre defeitos da GUI das distros linux, que dificultam seu uso, mas também não parei para pensar muito nisso... prometo que volto com esse debate. Bem vamos lá:
1 - É... esse problema nunca aconteceu comigo (acontece coisa pior, como o Mandriva 2008 não rodar de jeito nenhum no meu notebook mas rodar em outro idêntico, por exemplo). Tudo funcionou redondinho, menos a webcam.
2 - Eu entendo cara, mas grande parte dos sites hoje trazem um empacotamento deb ou um bin... mas, assim sendo, eu concordo: isso as vezes é sim meio problemático (mesmo que poucas). E sobre a centralização; hoje a computação é (completamente) conectada: se o usuário tiver problemas de compatibilidade com a placa de rede ou modem em qualquer sistema a única coisa que ele pode fazer é jogar paciência...
3 - É, como eu disse, eu não conheço muito bem o Samba, só instalei e pronto mas realmente, procurei melhor aqui no dia em que li o post e não achei ferramentas de configurações satisfatórias (o que não me incomodou porque ele funcionou). Não se se você já teve oportunidade de ver o Mandriva mas o painel de controle dele traz opções mas completas de configuração ao Samba (mas ainda assim não se se satisfatórias para alguém que realmente entende mais disso, minha rede é doméstica e o máximo que faço é compartilhar arquivos)
4 - Sim, claro. Mas só há vantagem do wine (que eu, particularmente, ainda não considero satisfatório) porque o windows é hoje o principal SO do mundo, a tentativa do Linux de minimizar os estranhamentos do usuário (e, neste caso do sistema de arquivos, dar uma maior funcionalidade ao sistema) é natural e não penso que há qualquer interesse do Windows em fazer o mesmo enquanto ele não se sentir ameaçado (da mesma forma que acontece com o Mac OS X) - assim como o OOo consegue ler e editar arquivos do MSOffice e a recíproca não acontece. Mas isso é danoso sim aos usuários finais.
5 - Entendi, mas aí volto ao que falei no ponto 2 do post: o usuário (final ou, principalmente, leigo) busca por funcionalidade, se o Firefox dele estava com todos os complementos e add-ons (como o flash) funcionando, eu duvido muito que ele iria instalar a nova versão (se não via Gerenciador de Atualizações, no caso do Ubuntu). Mas, ainda assim, o sistema não identificar e desinstalar a versão anterior é um falha (grave).
Muito obrigado a você também cara, primeiro por ter compreendido perfeitamente minha intenção com o post e depois por me trazer esclarecimentos e mais discordâncias - como eu disse, sou meio leigo no Linux ainda...
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